Psicólogos atuam cada vez mais
com a prevenção
Beatriz Araujo
Os profissionais da saúde mental,
que têm o dia 27 de agosto como sua data comemorativa, mostram-se fundamentais
para a formação de uma sociedade saudável. Tendo a depressão e a ansiedade caracterizadas
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como os males do século, principalmente
dentre os jovens, a atuação dos psicólogos passa a ter importância não apenas para
“tratar” essas questões, mas preveni-las.
“O psicólogo na nossa sociedade
atual, mais do que nunca, precisa ser reconhecido pela sua necessidade, tanto
para termos preventivos quanto terapêuticos. Hoje a gente sabe que a prevenção
é uma linha muito importante por evitar certas coisas como, por exemplo, o
suicídio, que é algo extremo e que não há o que fazer após ele, a não ser tratar
a família”, conta a coordenadora do
curso de psicologia da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Iara
Chalela.
A profissional explica que a
depressão e a ansiedade têm se intensificado com a ideia de a pessoa ser vista,
curtida e valorizada, o que advém da intensificação das relações ‘on-line’ e acaba
afetando a auto estima de muitos jovens. “A depressão aparece ao perceber que
tudo isso não acontece e que, quando acontece, a felicidade do ‘curtiram minha
foto’ dura só um minuto, se tanto. Depois aparece um vazio, porque isso, na
verdade, não satisfaz ninguém”.
A fluidez das relações
resultantes desta era de híper conexão também é apontada pela psicóloga. “Com
as tecnologias do jeito que estão, as pessoas estão cada vez mais solitárias enquanto
tornam-se cada vez mais conectadas. É um paradoxo”, relata.
Para Iara, a substituição da vida
presencial pela vida virtual tem trazido muitas consequências negativas, principalmente
para os jovens. “Quando você solta seu filho na internet é como se você o
estivesse jogando na estação rodoviária de uma grande cidade. Passa tudo por
ali. A fantasia da segurança não se concretiza na realidade”, comenta.
Além disso, tendo uma trajetória
de cerca de 40 anos como psicóloga, Iara considera que todo este contexto
tecnológico mudou a perspectiva dos jovens. “Há 40 anos, o jovem era mais
inocente em alguns aspectos. Além disso, como não havia essa rede de conexão
virtual, ele era obrigado a procurar conexões concretas, conexões
presenciais. E isso fazia dele uma
pessoa mais ligada empaticamente nas outras pessoas”, diz. Para ela, jovem
contemporâneo desenvolve relações mais “líquidas”, com menos empatia, o que os
faz pensar que não há outras possibilidades de interação.
E, em meio a tudo isso, o
trabalho do psicólogo encontra desafios e se mostra fundamental. “O primeiro desafio
é que as pessoas entendam a importância de poder mudar sua concepção, suas
ideias e, como consequência, seus pensamentos e sentimentos. As pessoas podem
mudar e isso não vai torná-las mais frágeis ou faze-las perder sua identidade”.
O outro ponto citado pela profissional
é de que o psicólogo auxilia as pessoas a encontrarem e criarem um significado
para sua vida. “As ideias das pessoas precisam encontrar significados para suas
próprias vidas. Para isso, é necessário ter autoconhecimento. É preciso
estabelecer relações com seus próprios valores, com suas próprias crenças, um enraizamento
familiar, porque o sólido, para esta sociedade líquida sem raízes, está nas
relações afetivas”.
REFLEXO NAS EMPRESAS - Rita Zaher,
professora de psicologia na UniSantos, por atender um público empresarial
dentro da sua área, relata que a dificuldade de desenvolver uma boa saúde
mental não é única dos jovens.
Formada há 30 anos, devido a sua
trajetória, Rita diz notar que as pessoas hoje estão muito mais ligadas a questões
técnicas do que pessoais. “A saúde mental hoje está em risco porque as pessoas
não aprenderam a lidar com ela. Aprendemos a lidar somente com a parte
estética, física e intelectual, e a parte emocional ficou de lado”. Mas as
perspectivas com relação à essa mudança de pensamento são otimistas. “A busca
pela saúde mental está crescendo bastante e isso porque estão vendo uma cena
muito triste e real”.
As questões de depressões entre
os jovens são muito discutidas, mas, para Rita, esse cenário não é exclusivo
desta faixa etária. “Os jovens têm, sim, uma tendência grande à depressão. Mas
não são só eles. Nas empresas nós temos hoje um número de afastamentos por
depressão muito grande”. Segundo ela, há a projeção de que em 2020 o maior número
de afastamentos previstos nas empresas seja por depressão.
Com isso, enquanto o maior
gatilho para os jovens são as redes sociais e todo o universo tecnológico, para
os adultos o peso está no ambiente de trabalho. “Há muita pressão. As pessoas têm
que atingir metas que são difíceis, trabalham com coisas que não gostam e
continuam, porque estamos em um cenário complexo onde não se consegue emprego
fácil”.