domingo, 25 de agosto de 2019


Psicólogos atuam cada vez mais com a prevenção
Beatriz Araujo

Os profissionais da saúde mental, que têm o dia 27 de agosto como sua data comemorativa, mostram-se fundamentais para a formação de uma sociedade saudável. Tendo a depressão e a ansiedade caracterizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como os males do século, principalmente dentre os jovens, a atuação dos psicólogos passa a ter importância não apenas para “tratar” essas questões, mas preveni-las.     

“O psicólogo na nossa sociedade atual, mais do que nunca, precisa ser reconhecido pela sua necessidade, tanto para termos preventivos quanto terapêuticos. Hoje a gente sabe que a prevenção é uma linha muito importante por evitar certas coisas como, por exemplo, o suicídio, que é algo extremo e que não há o que fazer após ele, a não ser tratar a família”, conta  a coordenadora do curso de psicologia da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Iara Chalela.

A profissional explica que a depressão e a ansiedade têm se intensificado com a ideia de a pessoa ser vista, curtida e valorizada, o que advém da intensificação das relações ‘on-line’ e acaba afetando a auto estima de muitos jovens. “A depressão aparece ao perceber que tudo isso não acontece e que, quando acontece, a felicidade do ‘curtiram minha foto’ dura só um minuto, se tanto. Depois aparece um vazio, porque isso, na verdade, não satisfaz ninguém”.

A fluidez das relações resultantes desta era de híper conexão também é apontada pela psicóloga. “Com as tecnologias do jeito que estão, as pessoas estão cada vez mais solitárias enquanto tornam-se cada vez mais conectadas. É um paradoxo”, relata.

Para Iara, a substituição da vida presencial pela vida virtual tem trazido muitas consequências negativas, principalmente para os jovens. “Quando você solta seu filho na internet é como se você o estivesse jogando na estação rodoviária de uma grande cidade. Passa tudo por ali. A fantasia da segurança não se concretiza na realidade”, comenta.

Além disso, tendo uma trajetória de cerca de 40 anos como psicóloga, Iara considera que todo este contexto tecnológico mudou a perspectiva dos jovens. “Há 40 anos, o jovem era mais inocente em alguns aspectos. Além disso, como não havia essa rede de conexão virtual, ele era obrigado a procurar conexões concretas, conexões presenciais.  E isso fazia dele uma pessoa mais ligada empaticamente nas outras pessoas”, diz. Para ela, jovem contemporâneo desenvolve relações mais “líquidas”, com menos empatia, o que os faz pensar que não há outras possibilidades de interação.

E, em meio a tudo isso, o trabalho do psicólogo encontra desafios e se mostra fundamental. “O primeiro desafio é que as pessoas entendam a importância de poder mudar sua concepção, suas ideias e, como consequência, seus pensamentos e sentimentos. As pessoas podem mudar e isso não vai torná-las mais frágeis ou faze-las perder sua identidade”.

O outro ponto citado pela profissional é de que o psicólogo auxilia as pessoas a encontrarem e criarem um significado para sua vida. “As ideias das pessoas precisam encontrar significados para suas próprias vidas. Para isso, é necessário ter autoconhecimento. É preciso estabelecer relações com seus próprios valores, com suas próprias crenças, um enraizamento familiar, porque o sólido, para esta sociedade líquida sem raízes, está nas relações afetivas”.

REFLEXO NAS EMPRESAS - Rita Zaher, professora de psicologia na UniSantos, por atender um público empresarial dentro da sua área, relata que a dificuldade de desenvolver uma boa saúde mental não é única dos jovens.

Formada há 30 anos, devido a sua trajetória, Rita diz notar que as pessoas hoje estão muito mais ligadas a questões técnicas do que pessoais. “A saúde mental hoje está em risco porque as pessoas não aprenderam a lidar com ela. Aprendemos a lidar somente com a parte estética, física e intelectual, e a parte emocional ficou de lado”. Mas as perspectivas com relação à essa mudança de pensamento são otimistas. “A busca pela saúde mental está crescendo bastante e isso porque estão vendo uma cena muito triste e real”.

As questões de depressões entre os jovens são muito discutidas, mas, para Rita, esse cenário não é exclusivo desta faixa etária. “Os jovens têm, sim, uma tendência grande à depressão. Mas não são só eles. Nas empresas nós temos hoje um número de afastamentos por depressão muito grande”. Segundo ela, há a projeção de que em 2020 o maior número de afastamentos previstos nas empresas seja por depressão.

Com isso, enquanto o maior gatilho para os jovens são as redes sociais e todo o universo tecnológico, para os adultos o peso está no ambiente de trabalho. “Há muita pressão. As pessoas têm que atingir metas que são difíceis, trabalham com coisas que não gostam e continuam, porque estamos em um cenário complexo onde não se consegue emprego fácil”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário